A noite estava só
começando... Juan acabara de “desdobrar”... procurou por todos os lados e nada
do super-herói da noite anterior...
Será que ele não viria?
Será que alguma coisa sobrenatural
acontecera com ele? Como fazer num caso desses? Ele não sabia que atitude
tomar.
Ficou pensando um tempo
quando percebeu uma festa, muito barulho, fumaça, gente cantando e dançando...
só que não era ali... ele ficou preocupado... ouvia, via, sentia, mas não era
da maneira como ele estava acostumado...
Instintivamente começou
a caminhar pelas ruas em direção ao que ele imaginava fosse a tal festa...
De repente, não mais
que de repente, a cena toda se descortinou a sua frente... realmente parecia um
acampamento cigano, tinha até aquele carroção tipo velho oeste, puxado por
cavalos e tudo o mais... no centro do furdunço tinha uma fogueira, viva, chamas
altas, labaredas que atingiam mais de cinco metros de altura... só que não
tinha ninguém...
Ele ficou imaginando o
que seria aquilo... como pode uma cena dessas e não ter ninguém?
Ficou meio desesperado
pois ele queria saber o que estava acontecendo... foi aí que ele viu uma figura
dentro da casa em frente à fogueira.
Entrou e tentou
conversar com o tal homem...
A descrição do homem
era muito parecida com o impacto que ele tivera quando conheceu o “capitão
sobrenatural”, aquele da cuequinha por fora da calça.
Esse não tinha esse
adereço, mas o cara estava com uma roupitcha digna de filme da Disney... sabe
aquela calça preta, botas, cinto com fivela grande, bardana na cabeça e...
ouro, muito ouro...
Juan ficou extasiado
com o que estava vendo... depois do primeiro “susto” teve o segundo... o homem
puxou conversa, se é que pode ser chamada de conversa uma impressão fonética
que atingiu o cérebro de Juan.
- ei... você!!! Me
ajuda, por favor!!!
Os lábios do homem não
se mexiam... Juan ficou sem saber o que fazer... será que o “som” vinha dele
mesmo?
Outra vez a mesma
impressão e mais uma e outra mais, até que Juan resolveu responder:
- tá falando comigo?
- claro que estou, tá
vendo mais alguém aqui?
Realmente os dois
estavam sós... estranho que o cigano ouvia a voz de Juan, mas não articulava
para falar.
- o que você quer?
- preciso ajuda para
socorrer uma amiga que não via há muito tempo...
- no que posso ajudar?
- preciso fazer com que
ela se lembre de mim e nós possamos conversar sobre os bons e velhos tempos de
acampamento...
- onde está essa sua
amiga?
- está lá dentro da
casa...
- ela não consegue
“aparecer” deste lado?
- conseguir consegue,
mas tem muito medo... eu não sei o que fazer...
- espera um pouco que
eu tenho um amigo mais experiente, estou tentando ver onde ele está... já, já a
gente resolve o caso...
Nesse meio tempo,
aparece um senhor com, mais ou menos, uns quarenta anos de idade, se aproxima
dos dois e, articulando, pergunta o que está acontecendo.
Juan se deslumbra com o
jeitão do homem, terno impecável, estilo anos 1950, gravata, sapato brilhando
como estrelas na noite escura, o prendedor da gravata com uma pérola pequena,
mas de brilho intenso, dentes parecendo um teclado de piano, novinho em folha,
camisa de linho, tudo impecável... ah... o chapéu!!! Um chapéu estilo Panamá,
branco, com uma fita azul celeste envolvendo todo ele...
Passado o “susto”, Juan
colocou o estranho a par dos últimos acontecimentos e o cigano contou também
tudo o que havia dito a Juan.
O estranho então se
apresentou... chamava-se Marcos Tertuliano e gostaria de ajudar, pois tinha
muita experiência nesses casos onde a reencarnação separara amigos de há muito
tempo.
Como é que é? Perguntou
Juan.
É isso... ele está
desencarnado... dá uma olhada... ele não tem o cordão de ligação com o corpo
físico e, provavelmente, a amiga dele está reencarnada e não consegue entrar em
contato com ele...
Rapaz... será?
Foi aí que o cigano disse o nome dele: Erick.
A partir dai, Erick
começou a contar algumas coisas da vida dele... disse que não se lembrava de
quase nada, mas que ele vivia em um acampamento cigano, onde se preparavam para
as saídas noturnas, pois fazia parte de uma companhia de arte que encenava uma
peça em várias cidades... aquelas reuniões à beira da fogueira eram para que
eles treinassem a leitura de cartas, leitura de mãos, adivinhação do futuro das
pessoas e assim por diante, além de proporcionar diversão e convivência para
todo o grupo.
Marcos Tertuliano ouviu
tudo com muita atenção e propôs que fossem ver a moça...
Chegando lá perceberam
que ela se agitava, contraia o rosto, parecendo que não estava gostando muito
da visita... ela não conseguia desdobrar!!!
Foi então que o Marcos
perguntou ao Erick o que tinha acontecido pois, aparentemente, ela não tinha
nada a ver com ele.
-nós somos amigos,
fazemos parte do mesmo acampamento... não consigo entender o que está
acontecendo... montei até uma fogueira para que ela visse e fosse até lá...
- há quanto tempo você
não a vê, Erick?
- acho que não sei
direito... eu estou meio confuso agora... não sei dizer exatamente quanto tempo
faz que não a vejo...
- tem certeza que é a
mesma que você conheceu?
- claro... como
esquecer amiga tão querida... nós somos parceiros de teatro, fazemos
brincadeiras no palco em muitas cidades... não é possível... alguma coisa está
errada...
- eu também acho...
disse Juan.
Nessa altura do
campeonato, quem é que chega?
Ele... o “super-herói”
da cueca por cima da calça...
Juan ficou aliviado...
- Onde você estava?
Porque demorou tanto? Não disse que era só desdobrar que a gente se encontrava?
Estamos aqui cheios de problemas...
- opa... calma... tive
alguns contratempos e não consegui sintonizar com você... o que está
acontecendo?
Juan contou toda a
história, apresentou o Erick, apresentou o Marcos Tertuliano, mostrou a reação
da moça e tudo o mais...
- Isso é simples, disse
o nosso “super-herói”...
- Como assim... simples?
A pergunta foi quase
geral, Marcos porém ficava um pouco afastado e esperando o desenrolar da
história...
- é simples... ela está
encarnada e ele desencarnado... não dá liga!!!
- liga?
- isso mesmo... ela não
lembra dele, está em outra, essa história ficou em outro tempo...
- ela não vai mais
lembrar de mim? Perguntou Erick.
-é capaz que lembre,
sim, mas depois que ela voltar pro teu lado... antes fica muito difícil...
- e o que eu faço
agora?
- você sabia que estava
desencarnado? Lembra de alguma coisa que, de repente, mudou a tua vida?
- Eu lembro sim... eu
perdi o controle da carroça... os cavalos ficaram muito nervosos com um raio
durante a noite e acabamos caindo numa ribanceira muito profunda... depois
disso eu perdi contato com os meus amigos do acampamento...
- então... não fique
chateado, mas você não faz parte deste lado da vida mais... você agora é um
espirito desencarnado... tem outras coisas pra fazer...
Marco Tertuliano estava
parado e, mentalmente, ajudava Erick a lembrar algumas coisas do passado
distante... estava numa espécie de transe...
- nossa... que coisa
louca!!! Por isso ninguém conversa comigo, ninguém me escuta, ela não me
escuta...
- isso mesmo... ela
sente a tua presença, mas não a ponto de conversar com você... somente pessoas
com capacidade mediúnica conseguem conversar, ver e sentir você de maneira mais
concreta...
- ela fica assim
desassossegado por minha causa?
- isso mesmo, não é que
você faz com intenção, mas a tua vibração é diferente e, por isso, causa um
certo mal estar nela...
- eu juro que não
queria nada disso, eu só queria retomar nossas atividades...
eu sinto falta do
palco e da companhia dos meus amigos... o que eu faço agora?
- fique tranquilo,
disse Marcos Tertuliano, tomando parte na conversa...
- o que poderemos fazer
agora, Marcos?
- já está
providenciado... dá uma olhada na carroça...
Eles olharam e ficaram
boquiabertos... um grupo estava lá... todos vestidos mais ou menos como
Erick... e acenavam para ele...
- reconhece alguém,
Erick?
- Meu Deus... como é
isso? Claro que reconheço... o Estevão e o Igor estão lá... são meus amigos de
longa data... estávamos no mesmo acampamento... parece milagre!!!
- não é milagre, mas
uma oportunidade que você está tendo para retomar a vida...
- será que eles tem um
acampamento para que possamos nos reunir?
- eu acho que sim...vá
até lá e converse com eles... estão te chamando...
- e a Fernanda? Minha
amiga... como ela vai ficar? – perguntou Erick.
- ela vai ficar bem...
essa sensação logo desaparecerá e ela terá a impressão que acordou de um sonho
estranho...
Os três “heróis” viram
quando Erick foi para o lado dos amigos e desapareceu como se tivessem sido
tragados pelo passado... passado tão presente que trouxe de volta velhos
sentimentos de amizade e companheirismo...
Tanto Juan quanto o
“super-herói” ficaram esperando que Marcos dissesse alguma coisa...
- pois é, gente... mais
um caso resolvido... agora é ir pra casa e... trabalhar... o dia tá nascendo de
novo...
Juan desta vez não
esqueceu e perguntou para o “super-herói”:
- como é teu nome?
- Estevão... José
Estevão!!!
Manolo Quesada
08/02/2018
“baseado em fatos reais
relatados durante assistência de desobsessão”
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